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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Imagem, por Pancetti.

 

ROSSINE CAMARGO GUARNIERI

( Brasil – São Paulo )

 

Nasceu em Tietê, São Paulo . Autodidata, exerceu várias profissões, inclusive as de operário gráfico, vendedor ambulante, jornalista, professor de literatura e assessor de importantes autoridades.

Poeta e prosador, publicou: "Porto Inseguro" (1938),
com prefácio de Mário de Andrade; "A Voz do Grande Rio" (1944); "Três Poemas" (1946) e "Memórias de um Galo", romance alegórico.

 

POESIA – Revista do Clube de Poesia de São Paulo. – No. 2   São Paulo: junho de 1978.   Diretor Geraldo Pinto Rodrigues.  95 p
Ex. bibl. Antonio Miranda

POEMA DA ANGÚSTIA

 

Leio e releio o poema
que acabo de compor
e tem
ainda
gosto de limbo
(um estranho sabor de aurora prometida)
de luz que vai nascer
e se adivinha
oculta
mas  palpitante
em sua matizada e leve tessitura.
Interrogo o poema.
Fixo o meu olhar
em cada palavra,
em cada frase,
em cada verso.,
tentando perceber
—   oculto   —
o segredo,
a carne,
o sangue,
a alma do poeta e do poema.
Tento vislumbrar
intenções
(porventura escondidas)
na trama das imagens
das formas que plasmei
com ritmo,
volume,
consciência
e cor.
Anseio desvendar.
por entre sombras
o caminho,
a vereda,
o roteiro
(irrevelado)
que o poeta quis traçar.
Investigo seu perfil,
sua face,
seu  flanco,
seu reverso.
Busco
(desesperado)
o fel subjacente,
a dor oculta
no semblante
estranhamente
plácido.
Reviro o poema,
revoltado
pela obstinada recusa
em desnudar-se.;
Procuro a faca,
o punhal
o acre-doce veneno,
o fio da navalha,
que lanha,
—  fino e fundo  —
a carne da alma,
a carne da carne,
a alma da carne,
a alma da alma
de todas as coisas.
Nada encontro!

 

 o poema é feio,
o poema é frio,
é morto,
é falso,


                 e vazio.
É um arremedo,
uma caricatura
uma mentira,
um amontoada de imagens e palavras
sem sangue,
sem carne,
sem seiva,
sem vida.
Este poema me enerva,
me desespera
me revolta!    
Onde jaz a poesia?
(Quem pastoreia o luar na noite fria?)
Onde a flor
invisível
e, no entanto,
presente
no misterioso perfume
evanescente
—  cauto e leve  —
que deve nascer
de cada som?
Onde a cor
impalpável
(mas pressentível)?
Onde a música
(inefável)
que canta
(agora)
dentro de mim
no suave acalanto
da celesta submersa
Onde a mensagem
a luz
(tão sonhada e sofrida1)
que se anuncia
no choro manso e triste
da clarineta
solitária
que soa
docemente
entre noturnos arvoredos
em lugar ignorado e distante
no silêncio da noite?
— Não sei!


*

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Página publicada em janeiro de 2023


 

 

 
 
 
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